How often should you get a flu shot? - Melvin Sanicas

Tradutor: Margarida Ferreira Revisora: Mafalda Ferreira

"As vacinas salvam vidas; o medo põe-nas em perigo".

Durante todo o ano, os investigadores, em centenas de hospitais por todo o mundo

recolhem amostras dos doentes com gripe

e enviam-nas para os melhores especialistas de virologia com um objetivo:

preparar a vacina para a temporada seguinte da gripe.

Porque é que precisamos de uma nova vacina todos os anos?

As vacinas para doenças como a papeira e a rubéola proporcionam proteção

para a vida inteira, apenas com duas injeções na infância.

Então, o que é que a gripe tem de tão especial?

A gripe é um alvo difícil por causa de dois fatores.

Primeiro, o vírus da gripe tem mais de 100 subtipos

e os que estão em circulação modificam-se todos os anos.

E segundo, o código genético da gripe permite-lhe modificar-se mais depressa

do que muitos outros vírus.

Para se propagar, a gripe transforma as células do seu hospedeiro

em fábricas de vírus.

Quando o vírus se introduz numa célula, liberta o seu material genético

que se dirige para o núcleo.

Aí, o maquinismo celular que habitualmente copia os genes do hospedeiro

passa a reproduzir os genes virais,

criando cada vez mais cópias do vírus.

Os novos vírus vão-se amontoando na célula até ela rebentar,

enviando vírus de gripe, acabados de fabricar,

para infetar mais células.

A maior parte dos vírus segue este percurso.

O problema com a gripe é que o seu material genético não é ADN

mas um composto semelhante chamado ARN.

Os vírus ARN podem sofrer mutações muito mais rapidamente.

Quando as células sintetizam o ADN,

um revisor incorporado reconhece e corrige os erros

mas o mecanismo de sintetização do ARN não tem este sistema de segurança.

Se aparecem erros, eles mantêm-se criando novas variantes do vírus.

Porque é que isso é um problema?

Porque as vacinas dependem do reconhecimento.

A vacina da gripe inclui parte das mesmas substâncias, os antigenes,

que se encontram na superfície do próprio vírus.

O corpo identifica esses fragmentos como intrusos

e reage, produzindo compostos chamados anticorpos,

fabricados à medida para corresponderem aos antigenes.

Quando uma pessoa vacinada encontra o vírus real.

graças aos anticorpos pré-programados, o sistema imunitário identifica a ameaça

e mobiliza-se rapidamente para impedir uma infeção.

Esses antigenes são diferentes para cada estirpe de gripe.

Se a vacinação preparou o sistema imunitário para uma estirpe,

ainda pode aparecer uma estirpe diferente.

Mesmo dentro da mesma estirpe de gripe,

essas rápidas mutações genéticas podem alterar os compostos superficiais

a tal ponto que os anticorpos podem não os reconhecer.

Para complicar ainda mais as coisas,

por vezes, combinam-se duas estirpes diferentes

que criam um vírus híbrido totalmente novo.

Tudo isto faz com que a vacina da gripe

seja como tentar acertar num alvo mutante em movimento.

É por isso que os cientistas estão sempre a recolher dados

sobre as estirpes que estão em circulação

e a verificar o grau de mutações que essas estirpes têm

em relação às versões dos anos anteriores.

Duas vezes por ano, a Organização Mundial de Saúde

reúne os especialistas para analisarem todos esses dados,

fazendo uma reunião para cada hemisfério.

Os cientistas decidem quais os surtos a incluir na vacina da temporada seguinte,

escolhendo quatro para a vacina quadrivalente atual.

Apesar das manobras esquivas da gripe,

nos últimos anos, as previsões desse grupo têm sido quase sempre corretas.

Mesmo quando as estirpes da gripe se modificam mais,

a vacina quase sempre está tão próxima

que uma pessoa vacinada que, mesmo assim, apanhe gripe

terá uma doença mais suave e mais curta do que se não fosse vacinada.

A vacinação também ajuda a proteger as outras pessoas da comunidade

que não possam vacinar-se, por razões médicas,

impedindo que as pessoas à sua volta apanhem o vírus.

Chama-se a isto imunidade de grupo.

A vacina da gripe não transmite a gripe.

Contém um vírus inativado que não pode fazer-nos adoecer.

Podemos sentir-nos cansados e doridos, depois de a tomar

mas não se trata de uma infeção.

É a resposta imunitária normal à vacina.

Nalgumas partes do mundo em vez duma injeção,

usa-se uma vacina inalada que contém um vírus ativo, enfraquecido.

Também é seguro para a maior parte das pessoas.

Só correm risco as que têm um sistema imunitário enfraquecido

mas essas, normalmente, não tomam vacinas vivas.

Entretanto, os cientistas trabalham para elaborar uma vacina universal

que nos proteja contra qualquer estirpe, mesmo quando modificada.

Até lá, já abriu a caça à vacina para o próximo ano.