The surprising reasons animals play dead - Tierney Thys

Tradutor: Margarida Ferreira Revisora: Mafalda Ferreira

[O silêncio é o grito mais poderoso]

Imaginem que estão a ser atacados por um predador feroz.

Sem possibilidade de fugir,

fazemos o que qualquer opossum corajoso e com amor próprio faria:

encarquilhar-se num estado imóvel chamado catatonia,

deitar a língua de fora,

babar-se

e exsudar um líquido malcheiroso das glândulas anais.

Enojado, o assaltante perde o ímpeto,

resolve que não somos o jantar que procurava

e vai-se embora.

Ao fim de 10 minutos, ressuscitamos e continuamos a passear alegremente.

Dos lémures aos lagartos,

das formigas aos anfíbios,

dos tubarões às galinhas,

centenas de animais fingem estar mortos, numa tática de sobrevivência.

Com a alcunha de "fazer de opossum" — que é a estrela desta atuação —

o fingimento da morte também se chama "tanatose",

palavra que vem de Tánato, o antigo deus grego da morte.

Mas a maior parte dos cientistas chama-lhe imobilidade tónica, ou IT.

Como ocorre a IT e porquê depende da espécie e da situação.

Exalar mau cheiro e adotar uma postura estranha

são coisas vulgares e desempenham papéis importantes.

Outros animais sacrificam os vizinhos:

os pintos de codornizes que paralisam enquanto os outros correm em debandada

têm mais hipóteses de sobreviver quando perseguidos por um gato.

Por falar em gatos, as mães felinas podem beliscar o pescoço dos gatinhos

e induzir um outro tipo de imobilidade, chamada clipnose.

Isso mantém os gatinhos quietos e fáceis de transportar.

A maior parte dos mecanismos fisiológicos subjacente a esta atuação teatral

tem origem no sistema nervoso parassintético,

mais conhecido por controlar ciclos de descanso e de digestão.

Nos opossuns,

o sistema nervoso parassintético reduz o ritmo cardíaco em metade,

a respiração num terço

e a temperatura corporal em mais de meio grau Celsius

durante mais de uma hora.

O neurotransmissor dopamina também desempenha o seu papel.

Os escaravelhos da farinha com níveis baixos de dopamina

fingem-se mortos com mais frequência do que os que têm níveis altos

e tudo o que bloquear o recetor dopamina pode prolongar a catatonia.

Mas manter o fingimento da morte não é fácil.

Os atores estão permanentemente a avaliar o meio envolvente

à procura de pistas para saberem quando será seguro despertar.

As galinhas, por exemplo, sentem

quando os olhos de um predador estão fixados nelas.

Os investigadores sabem isso porque,

quando usam um falcão embalsamado numa experiência,

as galinhas saem da catatonia mais rapidamente

quando os olhos do falcão estão desviados.

Outros animais usam a IT com fins diferentes da defesa.

Quando o Cichlidae dorminhoco está com fome,

permanece no fundo do lago e mantém-se imóvel.

A sua coloração às manchas faz com que pareça uma carcaça apodrecida.

Se um pequeno necrófago investiga, este vigarista, que não está morto, ataca.

Alguns animais fingem estar mortos como armadilha sexual.

Os machos das aranhas-creche

oferecem presentes de insetos envolvidos em seda,

na esperança de cortejar as fêmeas.

Mas essas fêmeas são conhecidas

por devorarem os machos que andam à procura de amor.

Fingindo-se mortos enquanto a fêmea devora avidamente a sua refeição,

estes machos conseguem reviver cautelosamente

e melhorar as suas hipóteses de um acasalamento com êxito.

Assim, a IT representa uma vantagem para um animal,

a não ser que haja outros conheçam o seu segredo.

As orcas da Califórnia podem virar os jovens tubarões brancos

induzindo a IT durante tanto tempo nos tubarões imobilizados,

que estes, que têm que se movimentar para respirar, acabam por sufocar.

O ser humano também pode provocar a IT nos tubarões.

Acariciando o focinho sensível à eletricidade de um tubarão,

e virando-o cuidadosamente,

os investigadores podem induzir a IT que dura mais de 15 minutos.

É o tempo suficiente para inserir uma etiqueta.

retirar anzóis

e até realizar cirurgias.

Mas há alguns riscos:

A IT pode dificultar a respiração

e induzir uma hiperglicemia, um sinal de "stress".

Por isso, esta técnica só deve ser usada quando necessário.

Os seres humanos também podem experimentar a IT

quando paralisam de medo durante ataques violentos.

Reconhecer esta forma antiga e involuntária de autodefesa,

tem implicações significativas quando tentamos compreender

porque é que certas vítimas não fogem nem lutam diante de um perigo.

O estudo da IT em animais não humanos

ajuda-nos a compreender melhor certos comportamentos estranhos

e também nos ajuda a compreender melhor o nosso comportamento,

por vezes, incompreensível,

de reações à violência.