Marcus Bullock: An app that helps incarcerated people stay connected to their families | TED

36,473 views ・ 2019-11-08

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Tradutor: Adília Correia Revisora: Margarida Ferreira
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Uma noite,
depois de ver o noticiário da noite, com o meu filho de 5 anos, na altura,
ele fez-me uma pergunta que eu pensei que teria muito tempo para responder.
Pensei que as perguntas complicadas geralmente surgiam aos 8 ou 9 anos,
mas o meu filho olhou-me nos olhos enquanto eu o aconchegava,
e perguntou-me muito sério:
"Papá, porque é que foste para a cadeia?"
A minha mulher e eu pensávamos muitas vezes nesse momento,
Sabíamos que esta pergunta surgiria
e queríamos lidar bem com isso.
Mas naquela noite, eu tinha uma pergunta para responder.
Então, decidi contar ao meu filho como acabei por ir para a prisão
quando era apenas um miúdo de 15 anos.
Esta foto foi tirada quando eu tinha 14 anos.
Aquela é a minha mãe,
a minha irmã,
e aquele bebé fofinho, é a minha sobrinha.
Ela tem 23 anos agora.
Fico louco quando penso no quão velho estou a ficar.
(Risos)
Esta foi a última fotografia que tirei
apenas algumas semanas antes de tomar a pior decisão da minha vida.
Eu e um amigo,
abordámos um homem que dormia no seu carro,
sacámos uma arma,
exigimos as chaves do carro
e fugimos.
Essa decisão pôs-me em frente de um juiz,
com a minha mãe e a minha irmã, de pé atrás de mim.
enquanto ouviam a minha sentença
de oito anos numa prisão de segurança máxima para adultos.
Esta é a outra foto de família que tirei com a minha mãe.
Mas desta vez, foi tirada na sala de visitas da prisão.
Não deixem que a cascata e as árvores
e tudo aquilo ao fundo vos engane.
(Risos)
Este foi um dos momentos mais difíceis da minha vida.
Na verdade, nos primeiros dois anos lutei contra a depressão
a viver em negação sobre a minha sentença.
Geralmente, dizia coisas à minha mãe, do tipo:
"Quero dizer, mãe, eu sei que pensas
"que aquele juiz não nos vai deixar passar o Natal aqui."
Ou então: "...Dia dos namorados."
Ou então, "... o último dia de aulas."
Ou então, "... o primeiro dia de aulas."
E por aí adiante.
Garanti à minha mãe que um dia,
alguém veria que eu estava a afogar-me naquelas celas,
que alguém nos diria que podíamos respirar de novo
porque eles só queriam ensinar-me uma lição difícil.
Mas um dia, enquanto caminhava no pátio da prisão
com o meu amigo Danny B, perguntei-lhe:
"Há quanto tempo estás aqui?"
Ele disse que já estava preso há 31 anos.
As palmas das minhas mãos ficaram húmidas,
o coração caiu-me aos pés
e fui atingido por uma tonelada de tijolos.
Porque foi nesse momento que percebi
que teria de cumprir todos os meus oito anos.
Agora, a história de ir para a cadeia em adolescente
não é incomum.
Mas, para a minha família,
foi a coisa mais trágica que já nos aconteceu.
Sentia muito a falta da minha família.
Tal como qualquer adolescente,
eu só queria abrir os presentes na manhã de Natal
e terminar o liceu com os meus amigos.
Por causa da segurança restrita nas prisões,
o acesso à Internet é limitado.
Não podemos enviar "emails" facilmente,
nem mensagens
e nem pensar em redes sociais.
Quer dizer que os momentos importantes, como o baile e a graduação do liceu
ou as toneladas de conteúdos livres que digerimos todos dias
raramente são partilhados com o primo, o irmão ou o melhor amigo, na prisão.
Fiquei muito deprimido.
A minha infância e os meus sonhos desapareceram.
Aquelas portas de aço a fecharem-se todas as noites
na unidade de alojamento da prisão,
forçaram-me a crescer rápido.
Posso dizer-vos em primeira mão,
que há algo sobre os cartões violentos da cadeia
que acabam completamente com a esperança.
Até tentei afastar a minha mãe,
porque não queria que ela fosse sujeita a cobrança de chamadas
ou a viagens de oito horas para uma hora de visita,
àquelas horríveis revistas das cavidades corporais
que ela experimentaria ao entrar na sala de visitas da prisão.
Mas como muitos dos pais aqui sabem,
não podemos deter o amor de uma mãe.
(Risos)
Então, o que é que a minha mãe fez?
Fez uma promessa sentada na sala de visitas da cadeia.
Prometeu que me escreveria uma carta
ou enviaria uma fotografia
todos os dias, desde esse dia até eu voltar para casa.
Restavam seis anos de sentença para cumprir.
As nossas vidas estavam a ruir à nossa volta,
e aparece esta senhora despreocupada
a pavonear-se na sala de visitas da prisão como se fosse um campo de férias,
com um novo plano para me enviar um monte de fotos.
(Risos)
Um momento muito interessante.
Mal sabia eu
que seriam as cartas da minha mãe que salvaram a minha vida,
A minha mãe tirava fotos de um "cheeseburger"
ou de um colchão num grande armazém.
(Risos)
Enviava-as com uma carta
com a promessa de que, um dia, eu desfrutaria de um delicioso hambúrguer
ou dormiria numa cama confortável.
A minha mãe assegurou-me que havia vida depois da prisão.
De facto, os meus melhores amigos começaram a viver indiretamente
através das cartas e das fotos da minha mãe...
(Risos)
dando a toda a unidade da prisão um vislumbre do que acontecia no mundo.
Depois de oito anos de pesadelos de que a prisão nunca terminaria,
de ser desumanizado,
de revistas internas,
de ver corpos a serem transportados para fora da prisão dentro de sacos
fui finalmente libertado.
Aposto que não adivinham
quem estava à minha espera naquela manhã fria de fevereiro.
(Risos)
Ok, adivinharam.
(Risos)
A minha irmã e a minha mãe.
Os anos pelos quais rezámos estavam finalmente à nossa frente,
e a dor de viver por detrás das grades pertencia ao passado.
Ou era o que pensávamos.
Como eu, a maioria das pessoas na prisão voltam para casa um dia.
Mas, ao contrário de mim,
muitas não têm o apoio consistente durante e após a prisão que eu tive.
A luta é real,
até lutei para conseguir um emprego quando voltei para casa.
Cada candidatura que preenchi
— de mercearias a empresas de hipotecas, a retalhistas de moda —
todas incluíam a mesma pergunta,
brilhante, pulsante,
à espera que eu adicionasse a minha verificação:
"Já foi condenado por um crime?"
Para ser sincero,
eu sabia que esse momento chegaria.
Sabia que teria de enfrentar esse problema.
Então usei a resistência mental construída enquanto estava na prisão.
Mas, depois de ser recusado em 40 empregos,
até eu comecei a sentir-me desanimado.
Pensava que teria a minha vida de volta,
que tudo aquilo tinha passado e que as coisas começariam a melhorar.
Mas aquela decisão que tomei quando era um miúdo de 15 anos
continuava a assombrar-me até àquele momento.
Mas, enquanto andava à caça de um emprego,
um dia, encontrei uma candidatura que fazia a mesma pergunta,
mas desta vez estava escrita de forma um pouco diferente.
Desta vez, a pergunta era assim:
"Já foi condenado por um crime nos últimos sete anos?"
Ora bem, depois de cumprir uma sentença de oito anos...
(Risos)
podia dizer honestamente que a minha condenação fora há mais de sete anos.
Pude responder à pergunta com um sincero "não"
e, finalmente, consegui o meu primeiro trabalho.
(Aplausos)
Eu era o rapaz que misturava tintas na loja de tintas.
Por vezes, os clientes entravam na loja,
e perguntavam-me:
"Marcus, quanto cobras para pintar a minha cozinha?"
"Bem, menina Johnson, nós não pintamos cozinhas,
"nós vendemos a tinta para vocês pintarem as vossas cozinhas."
(Risos)
Tive uma ideia luminosa e lancei uma empresa de pintura
que se tornou a ligação entre os clientes e a loja de tintas
e os pintores que precisavam de trabalho consistente.
Depois de um ano ou mais,
deixei a loja de tintas.
Aumentámos a nossa empresa de contratação
e, desde então, contratei toneladas de outros ex-presidiários.
(Aplausos)
Tenho cadastro de criminoso
e, tal como outros milhões em todo o país,
que também têm esse "C" no peito que representa "crime",
e, tal como a minha mãe prometera, muitos anos atrás,
eu queria mostrar-lhes que há vida depois da prisão.
Comecei a viver o melhor da minha vida,
e não podia acreditar que vivia nas nuvens.
Mas os meus amigos, os mesmos com que crescera naquelas celas,
ligavam-me e pediam sempre fotografias desta nova vida que eu estava a viver.
Se viajava, eles queriam fotografias.
Quando casei, eles quiseram fotografias.
Mas eu não tinha tempo nem banda larga para me sentar e escrever uma carta
ou imprimir fotos do meu telemóvel.
Geralmente, eu dizia-lhes:
"Meu, se eu pudesse enviar só uma mensagem, a minha vida seria mais fácil".
Depois de procurar uma solução em lojas de aplicações
e não tendo encontrado nenhuma,
lançámos a Flikshop.
(Aplausos)
Não estou a brincar.
Sabiam que o negócio de telefones na cadeia
criou uma indústria de milhares de milhões de dólares?
Alguns desses negócios são predatórios,
e nós sabíamos que tínhamos de desfazer esse espaço.
A Flikshop permite que os familiares tirem fotos, adicionem um texto rápido,
enviem-nos e, por 99 cêntimos,
imprimimos essa fotografia e o texto num cartão real e tangível
e enviamo-lo diretamente a qualquer pessoa,
em qualquer cela, em qualquer lugar do país.
(Aplausos)
Há milhões de famílias que estão a ficar divididas,
simplesmente porque não têm tempo para escrever uma carta,
descobrir como imprimir uma foto a partir do telemóvel,
ir à loja comprar uma caixa de envelopes
e aos correios comprar selos.
Começámos por conectar 50 famílias.
E depois 100 famílias.
E depois 500 famílias.
Hoje, estou orgulhoso por dizer
que conectámos mais de 140 000 famílias
de todo o país.
(Aplausos)
Geralmente, recebemos cartas no meu escritório,
transbordando na minha secretária,
de pessoas na prisão
como o Jason.
O Jason diz: "Recebi cerca de 15 cartões postais ontem à noite
"com tantas palavras de incentivo
"que tive de te escrever simplesmente para te agradecer."
Ou o George, que escreve:
"Hoje recebi cerca de seis postais com muito amor.
"Eu não sei de onde veio esse telhado de amor."
Não acredito no quão abençoado sou
por, algumas vezes, conhecer uma criança
que envia cartões postais pela Flikshop aos seus pais encarcerados.
Algumas vezes, até sou capaz de ir à Casa Branca
e falar sobre a necessidade de reforma na justiça criminal.
Esta história é incrível para mim, porque esta não foi sempre a minha vida.
Lembro-me vivamente de viver numa cela de 2 metros por 3 metros,
com um homem que tinha 22 anos e estava a cumprir perpétua mais 43 anos.
Pensava, enquanto estava sentado no beliche
que, provavelmente, morreríamos juntos naquelas celas.
Sei que a nossa era de encarceramento em massa
e as coisas que vemos nas notícias sobre as pessoas que vão para a prisão,
é um grande problema social
que todos temos de nos unir para resolver.
Mas estou confiante
de que, se tivermos a intenção de construir conexões familiares
em ambientes em que elas são mais necessárias,
isso é um grande passo na direção certa.
Eu adoro esta fase da minha vida,
este capítulo em que estou agora.
Mas sabem quem está a divertir-se ainda mais do que eu, nesta fase?
A minha mãe.
(Risos)
Eu amo-te, mamã. Obrigado.
(Risos)
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